terça-feira, 20 de novembro de 2007

Socialismo, criancinha e rock n' roll

Além das criancinhas, os comunistas apreciam, como qualquer ser humano, a boa música. E boa música, com toda subjetividade que o termo pressupõe, não se resume à música clássica e erudita. Na verdade, trata-se do bom e velho rock n' roll.

Na extinta União Soviética, o rock era visto como propaganda capitalista e instrumento de aliciamento da juventude. Por conta dessa visão, os Beatles eram considerados "subversivos". Rolling Stones em Moscou? Nem pensar.

Com a queda do Muro de Berlim, abriu-se a porteira para a vingança anticomunista do rock. No entanto, surgiram inúmeras bandas pelo mundo afora cada vez mais engajadas na defesa dos ideais marxistas. Alguns camaradas chegaram inclusive ao mainstream enquanto disseminavam A Revolução.

Dizem que se Jimi Hendrix tivesse nascido na URSS, o capitalismo estaria morto. Pensando nisso, aqui vão quatro dicas de bandas comunas para o deleite da classe operária:

1) O caso mais emblemático é o do Rage Against The Machine. O pai do guitarrista Tom Morello foi guerillheiro no Quênia. Suas letras são claramente anti-imperialistas, com críticas pesadas ao bipartidarismo nos Estados Unidos e aos grandes monopólios empresariais. O vocalista Zack de la Rocha tem vínculos fortíssimos com os zapatistas no México. Aqui uma menção ao clássico 1984, de George Orwell:

Who controls the past now controls the future
Who controls the present now controls the past
Who controls the past now controls the future
Who controls the present now?



2) O Manic Street Preachers é pouco conhecido no Brasil. Originária do País de Gales, a banda tocou em Cuba em 2001 (ver vídeo) e fez questão de conhecer o presidente Fidel Castro. As letras abordam temas que vão de consumismo até amor e existencialismo, sempre sob uma perspectiva socialista.

The masses against the classes
Im tired of giving a reason
When the future is what we believe in
We love the winter, it brings us closer together



3) O Gang of Four é uma banda anterior à queda do Muro de Berlin. Criada em 1977 na Inglaterra, a banda tem no próprio nome traços de suas influências: "Bando dos Quatro" é a expressão utilizada para se referir aos responsáveis pela implementação da Revolução Cultural na China, presos logo após a morte de Mao Tsé-Tung. São influenciados pela interpretação marxista da Escola de Frankfurt e por pensadores estruturalistas, como Lacan e Foucault. Tocaram no Brasil em 2006 (ver vídeo).

Down on the disco floor
They make their profit
From the things they sell
To help you cover
all the rubbers you hide
In your top left pocket



4) Prata da casa: o Dead Fish surgiu no ínicio dos anos 90 no estado Espírito Santo. Apesar da banda não admitir ser marxista nem comunista, seus três primeiros discos, independentes, escancaram diversas idéias socialistas. Depois de assinarem com uma grande gravadora, a Deckdisc, o ímpeto diminuiu um pouco, é verdade. Mas nem por isso perderam o brilho:

Em nome do privado
Estatizarei
O Estado agora é o Eu
E isso inclui você

***

Minério, violência, especulação
Bens materiais a amar
Prédios altos que mostrarão
Quão grande o tombo será! (ver vídeo)


quinta-feira, 15 de novembro de 2007

Sem sono

Quando criei este blog, não tive a intenção de expor fatos da minha vida particular ou causos de menor importância. No entanto, hoje abrirei uma exceção — embora o que estou para relatar tenha muito a ver com a situação das coisas no mundo em geral.

Há cerca de três semanas, uma mulher, cuja idade deve variar entre 30 e 40 anos, bateu na porta de casa. Ela buscava um lugar para tomar banho. Minha vó, que é a pessoa que fica aqui na maior parte do tempo, deixou. O pedido se repetiu, e com o tempo os banhos da senhora desconhecida se tornaram rotina.

A mulher, de poucas palavras, vive envolta em cachecóis e panos parecidos com véus, à semelhança de vestes muçulmanas. Parece ser bem articulada; falou até de socialismo e feminismo, segundo minha mãe. Mas não dá detalhes sobre seu passado ou família. Só se sabe que a mãe era enferemeira, e que vive na rua em um bairro vizinho ao nosso. Um mistério.

Há alguns dias, trouxe para minha vó um pedaço de pizza, que dissera ter ganho de outra família. Queria, de alguma maneira, retribuir o nós fizemos por ela. Nesta chuvosa quinta de feriado, às 23h00, a mulher tocou novamente a campainha, desta vez pedindo algo para comer. Foi prontamente atendida.

Assim que soube da história, não vi maiores problemas. Com o passar do tempo, porém, começou a me incomodar o fato de ter uma estranha quase que diariamente dentro de casa. Afinal, ninguém a conhece e tampouco sabe suas origens — para o bem ou para o mal.

Perdemos a privacidade e nos sentimos, de uma maneira ou de outra, invadidos cada vez que a senhora desconhecida toma banho aqui. Nós, que moramos de aluguel, não podemos assumir as prerrogativas do Estado e dar dignidade a alguém que caiu de para-quedas em nossas vidas. Também não temos culhões para simplesmente enxotá-la a pontapés.

Com um sincero peso no coração, pedi a minha mãe, na semana passada, que não deixasse mais a mulher entrar em casa. Vem sendo difícil, uma vez que ela parece ter se acostumado a receber nosso abrigo. Pode soar falso, mas também vem sendo difícil para nós — em especial para mim.

Para ser sincero, estou me sentindo um lixo humano por ter de fazer isso.

Eu poderia facilmente argumentar que o surgimento da mulher é conseqüência de um país que não dá assistência a seus cidadãos e jogar a responsabilidade para outra entidade qualquer. Poderia também dizer que não tenho obrigação nenhuma de dar abrigo a uma desconhecida.

Não é o caso: estamos falando de
humanidade.

Como amar o próximo respeitando nossa individualidade? Como ajudar alguém sem que este alguém se torne dependente? Como ser indiferente ao sofrimento alheio? Como separar as relações sociais das relações entre indivíduos?

Não foram poucas as horas e lágrimas dedicadas ao assunto.

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Santos e revolucionários


No dia 9 de outubro comemora-se o dia de São Dionísio. Enviado pelo Papa para criar a primeira comunidade cristã na região da Lutécia (hoje Paris, França), o santo foi morto no século III, acusado de pregar o catolicismo, religião ilegal à época.o dia 9 de outubro comemora-se o ia de São Dionísio. Enviado pelo Papa

Alguns séculos mais tarde, nessa mesma data, haveria outra morte em circustâncias parecidas: em 1967, Ernesto Guevara de la Serna, o Che, foi executado friamente por militares depois de ter sido capturado na cidade de La Higuera, na Bolívia, onde liderava um grupo guerrilheiro. Ao assassiná-lo, os milicos bolivianos pensavam ter dado fim a um dos maiores propagandistas vivos da Revolução.

Mas o tiro saiu, quase que literalmente, pela culatra: a morte de Guevara fez do guerrilheiro o maior mártir do comunismo. Embora não pretendesse a santidade, Che tornar-se-ia, involuntariamente, a versão socialista contemporânea de São Dionísio.

Após a morte de Che, sua popularidade foi aumentando ano-a-ano, não sem incomodar uns e outros. A direita nunca admitiu que houvesse uma figura como El Che. Por ser humano, acertou e falhou. Por ser socialista, seus erros eram expostos e seus acertos, acobertos. Desde sua morte, as forças conservadoras vem tentando deslegitimá-lo com calúnias e difamações. Para isso vale tudo: omitir, mentir, chamá-lo de oportunista, ingênuo ou até mesmo de covarde, como fez recentemente uma grande revista brasileira.

No entanto, pouco se fala sobre os motivos que fizeram do guerrilheiro um herói. É difícil chamar de assassino um homem que, em pleno combate, prestava auxílio médico a seus inimigos. É no mínimo improvável que seja oportunista um homem que largou uma vida cômoda como médico para ser guerrilheiro na selva. É impossível qualificar de covarde um homem que, depois de fazer a Revolução e virar ministro, abdicou de suas funções no governo e foi, de peito aberto, para a luta armada na África e América Latina.


O desapego ao poder, o idealismo e o senso de justiça são algumas razões pelas quais Che Guevara tornou-se ícone de gerações de jovens em busca de um mundo melhor. Pode-se espernear à vontade; alguns, inclusive, podem achar a imagem de Che surrada, “clichê”, talvez pela sua presença em camisetas e produtos diversos pelo mundo afora.


Nada disso, no entanto, invalida o extraordinário humanismo deste que foi o mais dedicado dos lutadores do século XX. “Procurem sentir no mais profundo de vocês qualquer injustiça cometida contra qualquer pessoa em qualquer parte do mundo. É a mais bela qualidade de um revolucionário". Belíssimo, camarada. Belíssimo.

Mais do que isso: sua postura diante do mundo é um dos maiores legados que a experiência socialista deixou à humanidade. Che analisou escrupulosamente a realidade, mas sem deixar de lado seu ideal. Acreditou no sonho que, no final das contas, é o sonho de todos nós. Foi a fundo na prática revolucionária, sem contudo deixar a teoria de lado. Não delineou fronteiras; a liberdade humana foi sua Pátria. São Dionísio não faria melhor.

Che Vive!

sábado, 6 de outubro de 2007

Tropa de Elite

Publicado originalmente na comunidade Botequim Socialista

***

Vi ontem Tropa de Elite. Minha mão coçou, não me agüentei e aqui vão algumas impressões:

Não achei o filme fascista, como a maioria. O fato do longa mostrar as relações sociais do tráfico pela ótica do BOPE não significa uma adesão automática à lógica policial. Esse argumento me parece maniqueísta. Como disseram alguns aqui, entre eles o Phantom, precisamos de filmes que mostrem a visão do outro lado. Até porque para vencer o inimigo é preciso entendê-lo, não?

Uma coisa que me chamou a atenção foi que, durante todo o filme, a polícia, representada pelo cap. Nascimento, diverge da classe média, travestida sob a figura dos estudantes. A crítica da esquerda diz que a polícia só bate em pobre e protege a playboizada, isto é, da classe média. Como divergir da classe média então?

Por aí já não acho que o filme assine embaixo do BOPE, não.

Por outro lado, a narrativa glamuriza, sim, as ações do BOPE, mas, a meu ver, isso é mais uma exigência mercadológica, vamos dizer assim, do que um apoio irrestrito às práticas ali retratadas. Isso também depende de quem vê o filme: eu não acho legal ver o cap. Nascimento ensacando a mulecada só porque ele é honesto dentro da corporação. Uma coisa não tem nada a ver com a outra.

Aliás, o BOPE é glamurizado por ser honesto dentro dos parâmetros do mundo policial, os quais, como é mostrado no longa-metragem, não são exatamente bons.

A meu ver, ninguém ali no filme escapa da crítica: BOPE, PM, traficantes, ONG’s que mantém relações “amistosas” com o tráfico e, principalmente, a classe média. Para mim a instituição mais criticada no filme é a classe média. Numa analogia, o baseado do estudante pode ser considerado a renda que essa classe (e daí pra cima) não quer distribuir nem a pau — assim como o muleque não quer deixar de fumar unzinho.

Além disso, o universitário-traficante protestando contra a violência é a imagem cuspida e escarrada do comportamento da elite brasileira: se omite a vida inteira dos problemas que ela mesma criou para a sociedade, mas resolve protestar quando esse mesmo problema bate a sua porta. De acordo com essa interpretação, a cena do Matias dando bicuda no estudante em meio ao protesto foi, para mim, a mais catártica de todo o filme.

O filme tem três méritos: 1) não aponta culpados, e sim mostra que o problema do tráfico e da violência só vai ser resolvido quando o Estado investir no morro ao invés de só ficar na repressão. 2) mostrar que cada ente envolvido nessa luta tem sua própria lógica e não uma brutalidade inata; 3) estimular, e muito, a discussão. Esse é o principal.

E o Wagner Moura é mesmo um puta ator, hehehe!

Enfim, é isso.

quinta-feira, 26 de julho de 2007

O mocinho, a sereia, o vilão e o roteirista

Era uma vez um mocinho. Esse mocinho tem um conhecido histórico de negligência com a segurança de suas aeronaves; esse mesmo mocinho declara, em seus 7 mandamentos, que "nada substitui o lucro". Certo dia, um dos aviões do mocinho se acidenta na cidade de São Paulo: são cerca de 200 mortos, naquele que é considerado o maior acidente aéreo da história brasileira. Coincidentemente, há exatos 11 anos outra aeronave pertencente ao nosso herói caía há poucos metro dali, matando outra centena de passageiros — cujos familiares lutam, até hoje, para serem indenizados. Mas o mocinho não age sozinho; um de seus melhores parceiros é a sereia.

A sereia vem tentando, ao longo dos últimos 5 anos, desestabilizar um governo eleito e reeleito democraticamente por mais de 60% da população, ou seja, pela imensa maioria dos brasileiros. Essa personagem, vale dizer, esconde o governador do maior estado do país quando um acidente em uma obra do metrô (cuja responsabilidade é justamente da administração estadual) mata 7 trabalhadores pobres — incluindo um cobrador de lotação. Ironicamente, nossa criatura — que só é metade homem — permite que esse mesmo governador dê declarações levianas e sem nenhum conhecimento técnico sobre o acidente que, no início da história, matara cerca de 200 pessoas. Além disso, com o advento do "apagão aéreo", a sereia vem reforçando suas críticas com boas doses de golpismo; curiosamente, ela não teve a mesma postura com o governo anterior, responsável por outro apagão — o energético. A sereia omite fatos, cria teses e faz julgamentos: para ela, o culpado é sempre o vilão.

O vilão é um ser anômalo, feio, burro e barbudo. Além disso, ele é diariamente tachado de incompetente e ladrão; seus eleitores são frequentemente rotulados de ignorantes, iludidos e comprados. Porém, o vilão chegou ao poder — muito embora não o tenha de fato. Mesmo assim, o governo do Mal bateu recordes de geração de emprego, criou diversas vagas na universidade para estudantes pobres e deu prioridade às classes mais baixas na maioria de suas políticas públicas. Esse governo aumentou a renda de tal maneira que muitas pessoas passaram a viajar de avião, o que sobrecarregou a infra-estrutura aeroportuária existente e resultou no chamado "apagão aéreo". No entanto, ao privilegiar os miseráveis do país, o vilão começou a desagradar o roteirista da história.

O roteirista foi responsável pelos mais intrigantes momentos da trama: em 1964, ele pediu e apoiou um golpe militar contra um presidente eleito democraticamente; nos anos 1980, ele ajudou a eleger um presidente que congelou a poupança do próprio roteirista e que, três anos mais tarde, seria destituído por impeachment; já na década de 1990, o roteirista apoiou a venda do patrimônio público do país a grandes conglomerados internacionais por preços irrisórios. Em 2003, a princípio, o roteirista ficou feliz com a vitória do vilão nas urnas. No entanto, pouco tempo depois ele foi seduzido pelo canto da sereia; desde então, o roteirista, que até hoje não pega o mesmo elevador que sua empregada, vem fazendo de tudo para matar o vilão. Mas, infelizmente, o roteirista não consegue dar fim a essa história.

Porque nela quem manda, de verdade, é o público.

terça-feira, 24 de julho de 2007

CIEE e os bons camaradas

Há cerca de uma semana recebi mais um email do CIEE (Centro de Integração Empresa Escola). Tratava-se de uma peça divulgando a Olimpíada Universitária, que será realizada às 9h00 do dia 30 de setembro na Cidade Universitária, aqui em São Paulo.

Continuei lendo o email; durante a tal da olimpíada, será entregue o honroso Troféu Mário Amato. O velho que dá nome ao prêmio é um camarada altamente subversivo: foi presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) na década de 1980 e disse, dentre outras coisas, que "800 mil empresários deixariam o Brasil" caso Lula vencesse as eleições de 1989.

Foi mais um momento de felicidade para mim que, apesar de trabalhar normalmente como qualquer pessoa, estou na infeliz situação de também ser estudante universitário. Afinal, é bacana ver uma instituição dessas — que diz integrar estudantes — homenagear industriais que torciam pela eliminação de leis e encargos trabalhistas na Constituinte de 1988.

Até minha avó sabe que os empresários fazem de tudo para pagar cada vez menos aos seus "colaboradores". HAHAHA. Nem que, para isso, tenham de criar uma organização mafiosa que recruta mão-de-obra barata sob o pretexto de "incluir jovens" no mercado de trabalho. Minha própria experiência no tronco começou cedo.

Já fazem 7 anos que estou no batente; desde então, tive apenas TRÊS MESES de registro em carteira. Aos 16 anos, trabalhei como operador de telemarketing, sendo registrado como "estagiário". HAHAHA. Recentemente, fui promovido a executivo-júnior (chique, não?) em uma assessoria de imprensa. No entanto, continuo recebendo pelo meu contrato de estágio (exploração, não?).

E enquanto o pau come solto no lombo do peão, a chefia berra de dentro do carrão importado:

- A culpa é dos impostos!

sábado, 26 de maio de 2007

O frio inconveniente

Seis e meia da manhã; começa mais uma enfadonha semana de trabalho. Olhos cheios de remela, ressaca moral do domingão e preguiça, muita preguiça. Fora o salário que, nossa!, é um puta estímulo pra sair de casa cedo.

Pior, tá um frio do caralho: fazem 12º C em São Paulo.

Começa então o martírio polar. Ao levantar, você vai perpetrar aquele número dois matutino de sempre e...pá!, a maldita tampa do vaso gelada. Os glúteos, rijos, entram em estado de choque enquanto você tenta se concentrar na atividade principal.

Terminada a expulsão, é hora de ir pro box tirar o sebo do corpo.


Se você é das classes A ou B e tem uma ducha decente, sem problemas. Agora, tu tá fudido mesmo se for pobre e teu chuveiro for uma gambiarra sem fim: a água sai gelada, e o botão "quente" só existe de enfeite; você tenta abrir mais a torneira, a água continua saindo gelada; melhora um pouco mas, logo depois, volta à temperatura glacial.

Das duas uma: ou você sai do banheiro fedido, caso tenha tomado um banho de gato, ou eletrocutado caso o fio-terra (do chuveiro) não esteja funcionando.

No trabalho, o sofrimento continua: seu dedo, congelado, dói a cada tecla digitada. Teus colegas de trabalho democratas ligam, sem pedir pra ninguém, o ar condicionado em temperaturas subsaarianas pra te lembrar do quão gostoso é pingar de suor em pleno inverno.

Passam-se, três, quatro, até cinco dias nesse estado de coisas até que você seja vitimado pelo influenza. O nariz passa por uma mutação circense, avermelhando-se de tal forma que as pessoas ao seu redor pensem que você é Bozo. A coriza, abundante, aflui em quantidades inapropriadas ao convívio social.

É tanto ranho que os lenços se acabam, e você começa a limpá-lo na manga da blusa mesmo.


Aí vem a o princípio de febre: olho pesado e moleza no corpo, tú fica rodeando que nem uma barata tonta pelos quatro cantos. Tua saúde já deixou de fazer jús ao nome há tempos. E tudo isso pra não falar do pinto encolhido, heim.

Quando menos se espera é sexta-feira, fim de expediente, e você se vê obrigado a convalescer em casa no sabadão, quando o frio já se foi e faz um puta sol lá fora. Não dá nem pra descolar um atestado para cabular o trampo na segunda, já que pro seu patrão gripe é frescura, e não doença.

É claro que, até aqui, a coriza continua jorrando. Já não há hipoglós que salve tuas narinas do falecimento. E assim, com o nariz assado, caminha a humanidade em mais uma semana de outono na Terra da Garoa.

sexta-feira, 25 de maio de 2007

Padrão Bobo de Qualidade

No Brasil, as telenovelas de maior audiência são produzidas e exibidas diariamente pela TV Globo. Na Venezuela, essa tarefa fica a cargo da rede privada RCTV. Mas parece que a brincadeira acabou — ao menos no país vizinho.

O governo venezuelano decidiu fechar a RCTV, alegando que o canal participara ativamente do golpe de estado perpetrado contra Chávez em 2002. A emissora, por sua vez, diz que esse é mais um intento totalitário do presidente, sem respaldo jurídico e institucional.

Com o fechamento da emissora, os telespectadores venezuelanos ficarão órfãos da novela de maior audiência no país, chamada "Mi Prima Ciela", conforme relata o Portal G1. Informação muito relevante essa, aliás.

A decisão, como não poderia deixar de ser, reverberou entre os senhores da mídia brasileira, que não param de tachar Chávez de ditador e autoritário.

O que não dizem é que a RCTV é uma concessão pública, cujo vencimento está previsto para o próximo domingo, dia 27 de maio. Esquecem de mencionar que Chavez foi eleito e reeleito em eleições democráticas — com 56% e 63% dos votos, respectivamente. Também venceu um referendo que pedia sua saída do poder.

Resumindo: é um presidente que conta com o mais amplo e legítimo apoio popular.

Levando em conta a atitude golpista da emissora, é obrigação do governo fechá-la. Ao apoiar abertamente a destituição do presidente venezuelano em 2002, o canal abriu mão de seu compromisso com a isenção, fundamental a qualquer meio de comunicação que usufrua, repito, de uma concessão pública.

Na imprensa brasileira, o debate — que nem debate é porque não ouve o contraditório — tem dois pesos e duas medidas.

A liberdade que a RCTV teve para atentar
contra a representação política legítima da maioria dos venezuelanos pode existir, ok. Mas a liberdade de, legitimamente, não renovar uma concessão é sumariamente qualificada de ato totalitário por parte do governo.

Mas voltemos às novelas.

A partir do próximo domingo, os telespectadores terão de agüentar produções independentes e educativas ao invés de densas e aprofundadas esquetes de dramaturgia mexicana.

No entanto, quem sentir saudade ainda tem uma saída. Basta posicionar as parabólicas para a Terra de Santa Cruz e invejar o Padrão Bobo de Qualidade.


quinta-feira, 24 de maio de 2007

Omissão e Reação

O governador de São Paulo, José Serra, promulgou uma série de decretos ambigüos que dão margem para a destruição da autonomia universitária. Com o fim da autonomia, as verbas que vão para as universidades estaduais públicas ficam sujeitas às conveniências políticas de quem estiver no poder.

O que significa que o governador pode usar dinheiro que deveria ser destinado à pesquisa e produção científica em obras que rendem mais votos, como reformas e ampliações, por exemplo.

Para resistir a esse absurdo, os estudantes, corretamente, ocuparam a reitoria da universidade e decidiram não negociar com a Polícia — afinal a PM é só o porrete de quem emitiu o decreto.

Pois bem. Eis que leio o seguinte na edição de hoje da Folha de S. Paulo:
Para Serra, a questão da desocupação da USP "não é assunto de política do governador", mas da polícia e da Secretaria da Segurança.
É incrível. Como o autor do decreto pode falar que o decreto não é problema dele? A disposição em negociar tem que partir do governo, e não dos estudantes; eles estão apenas reagindo a um problema, não o causando.

Haja cinismo.


De qualquer maneira, o protesto nos ajuda a lembrar que o diálogo, sózinho, nem sempre é a melhor arma. Num imbróglio desses é impossível conseguir uma solução realmente satisfatória sem ferir nenhum interesse.


E se os estudantes cederem à chantagem e saírem, não vão conquistar absolutamente nada.

Lembre-se, camarada, Gandhi está morto. Só o bolchevismo salva!

terça-feira, 22 de maio de 2007

Analfaburros

Job, networking, brainstorm, prospect, coffee-break. O mundo corporativo está cheio de exemplos lúdicos da idiotice humana: o que mais poderia explicar esse impulso incontrolável de executivos e almofadinhas em geral de utilizar palavras gringas — preferencialmente em inglês — no dia-a-dia de trabalho?

Mas a lista não pára por aí. Conhece o verbo startar? E o substantivo coach?

Uns dias atrás, estava eu, marotamente, redigindo mais um texto a trabalho em minha baía. Foi então que, repentinamente, meus ouvidos foram premiados pelo verbete
Draft, que em inglês significa rascunho. Não me contive, e na hora fui a minha colega de trabalho para questioná-la sobre o significado de Draft.

Curiosamente, a meliante que proferiu esse crime estava se referindo a....rascunho. Não menos curiosamente, ela não soube explicar o motivo pelo qual usou um termo em inglês para falar algo que possui um eqüivalente em nosso idioma.

Penso que isso ocorre porque o português é um idioma brega e fora de moda.

Um dia, escritores como Camões, Machado de Assis e Guimarães Rosa tentaram valorizar o idioma luso. Eles tinham algo em comum: todos sofriam, em maior ou menor grau, da síndrome de Aldo Rebelo.


Mas isso foi há muito tempo. Hoje em dia, as regras da pós-modernidade e da boa servidão ao capital recomendam que o correto é ruminar meia-dúzia de sílabas no idioma bretão - esta sim uma fala requintada e de boa feição vernacular.

Insistir em speak a língua-mãe é sinal de falta de approach. Ninguém sobe na vida assim.

Dipromas

Sou contra o diploma para o exercício do jornalismo. Explico:

Jornalismo é informação, e o direito à informação é, por princípio, livre — tanto no que diz respeito à informar quanto a ser informado. Quando se exige diploma, está se limitando o direito de informar a uma casta de filhos da classe média iluminados que puderam cursar qualquer faculdade meia-boca por aí.

As faculdades de jornalismo também não asseguram que os profissinais saídos de suas fileiras sejam íntegros e, acima de tudo, bons jornalistas. Pelo contrário: a formação oferecida nesses cursos é superficial.

O estudante aprende um pouco de tudo de maneira rasa; o conteúdo de formação jornalística, em si, é insuficiente se comparado às demais disciplinas da grade de ensino. Lide, pirâmide invertida e demais técnicas próprias à profissão não formam um corpus suficiente para garantir a existência de um curso superior de jornalismo.

Para mudar esse cenário, deveria haver uma especialização em jornalismo de um ou no máximo dois anos, uma espécie de pós-graduação que pudesse ser cursada por profissionais já formados em outras áreas das ciências humanas ou até mesmo das exatas (num caso de jornalista científico, por exemplo). A interpretação e a contextualização dos fatos é tão ou mais importante que seu relato, e certamente não é no curso de jornalismo que os estudantes aprenderão a compreender o mundo.

Na França existem, além das faculdades de jornalismo nos moldes brasileiros, especilizações como essa que eu mencionei.

Os sindicatos da categoria, por sua vez, são a favor da exigência do papelzinho pregado na parede. Alegam que isso aumenta o poder de barganha da categoria diante dos patrões e profissionaliza ainda mais o setor. Dizem ainda que a não exigência do diploma favorece a contratação de profissionais com menores salários.

Balela: o que favorece a luta dos jornalistas é um sindicato orgânico e atuante. Ao invés de partir pra briga, as entidades de classe ficam arranjando falsas lutas como bode expiatório para sua incompetência e/ou peleguismo.

Por falar nisso, cadê os comitês de redação, heim?

quarta-feira, 16 de maio de 2007

Igreja? Que Igreja?

Há uma semana, o papa Bento XVI chegava ao Brasil para abençoar seus fiéis cordeiros. Veio, orou, passeou no batmóvel e falou umas merdas, como quando disse que o catolicismo não foi imposto aos índios quando os portugueses desembarcaram aqui.

Como são bonzinhos esses lusitanos, veja você!

Além disso, com a visita do Santo Padre a Igreja voltou a ser criticada por seu conservadorismo em relação a temas como aborto e uso de preservativos.

A crítica é altamente pertinente, mas está mal direcionada.

Não estamos em um Estado teocrático, nem vivemos sob uma nova Inquisição; no Brasil, só é católico quem quer. A diversidade de crenças, ritos, seitas e sincretismos por aqui é tamanha que não há espaço para nenhum tipo de coerção religiosa. Ninguém é, portanto, obrigado a deixar de usar camisinha ou casar virgem para satisfazer os anseios de Vossa Santidade.

Por outro lado, a Igreja ainda tem poder político por sua influência em determinados setores da população. Esse poder não é alvo de ataques, e aí está o erro: não interessa se a Igreja prega X ou Y, interessa o número de pessoas que seguem as diretrizes X ou Y.

O problema é, na verdade, a dimensão que damos a esse poder. Há décadas o número de católicos no país vem diminuindo, mas nem por isso o espaço que a Igreja tem na mídia e no espectro social diminuiu. Criou-se então uma discrepância política que só favorece ao clero e seus dogmas.

O poder político da Igreja é muito, mas muito inferior aquele que existia 50 ou 40 anos atrás, quando lindas e meigas senhoras católicas marcharam contra o governo "subversivo" de João Goulart.

Mas se hoje em dia as pessoas não seguem sequer os preceitos mais básicos do catolicismo, porque deveríamos achar que elas seguiriam à risca sua orientação política?

Quantas mulheres virgens com mais de 20 anos você conhece?

E aquela história de "católico não-praticante", não lhe parece conversa de fiel com preguiça de acordar cedo aos domingos?

Hoje em dia Deus não merece uma hora semanal dos católicos.

Quando criticamos Bento XVI por tentar manter a coerência dos ensinamentos do catolicismo, estamos na verdade ajudando a criar no imaginário popular a idéia de que a Igreja é uma instituição que se rebela contra a liberalização dos costumes — e, em menor medida, contra a liberalização econômica.

Essa percepção acaba atraindo simpatia às causas mais conservadoras no que diz respeito ao comportamento. Paradoxalmente, no que diz respeito è economia, a posição da Igreja acaba sendo altamente progressista, já que passa à população uma imagem de instituição séria que não muda seus ideais conforme a demanda do Santo Mercado.

O melhor meio de criticar a Igreja é a ignorando. Deve-se disseminar posições progressistas em relação aos temas com os quais o catolicismo lida, mas não se deve levar em conta a Igreja como principal antagonista nessa disputa de idéias.

Até porque a crítica não deveria ser exercida contra os dogmas da fé católica, mas sim contra o uso político da religião que, mesmo diminuto e fragmentado, ainda pode ser visto em manifestações contra o aborto, por exemplo.

Acabou o expediente. 18h00. Adeus.

quinta-feira, 10 de maio de 2007

Bicharlysson e os gaúchos

O sonho acabou.

Ontem eu estava com meus doutos amigos da faculdade, Rafael Biro, Márcio, Jorge, Érico e Demétrio. Os trinta minutos iniciais de São Paulo e Grêmio foram acompanhados ainda durante a aula, em um televisãozinha portátil, sem som, escondida em meio às mochilas no fundão da sala. Depois de uma empolgante discussão sobre a filosofia de Epicuro, corremos atrás de um lugar para assistir o jogo.


Os bares estavam cheios. Para nossa surpresa, havia um que, inclusive, estava lotado de gremistas. Em meio àquele agloremerado de gaúchos machos e virís, achamos um boteco razoável e conseguimos nos acomodar, os seis, numa única mesinha virada para a TV. Que se foda, importante é o jogo, e lá ficamos até o fim da partida.

A tragédia
Até o fim do primeiro tempo, o São Paulo passou apuros sem parar. Com o placar em 1 a 0 para a equipe gaúcha, a única chance de gol tricolor aconteceu apenas nos acréscimos, num cruzamento pela esquerda que terminou em chute pela linha de fundo.

Jesus Cristo deve ter descido à Terra e dado um croque no Muricy. Ele (e não estou me referindo à Cristo) decidiu, então, colocar Jorge Wagner e Dagoberto no lugar de Jadílson e Hugo, respectivamente. O desempenho do time foi extraordinariamente superior àquele mostrado na etapa inicial; chegara a vez do Grêmio de ser pressionado.

O Tricolor passou a ter mais controle de bola e a avançar pelas laterais. O jogo fogo ficou cadenciado, e as jogadas de Ilsinho na ponta esquerda e de Aloísio e Dagoberto no ataque deram um pouco mais de ânimo à torcida. Parecia questão de tempo para o São Paulo empatar e foder de vez com a esperança gremista.

Mas não foi bem isso que aconteceu.

Aos 29 minutos do segundo tempo, num contra-ataque, a bola reboteou para Diego Souza que, sem marcação, colocou no fundo da rede paulista. A imagem de nosso time sendo eliminado surgia com mais força em nossas cabeças. Pior, éramos obrigados a ficar quietos, enquanto gambás e porcos infiltrados gozavam pela nossa infelicidade.


O tempo corria, e os jogadores do São Paulo, apesar de irem para a frente, acabaram ficando amoados. No finalzinho, Dagoberto ficou cara a cara com o goleiro Saja e desperdiçou nossa última chance com um dedão pra fora. De qualquer maneira, o árbitro invalidaria o lance, marcando falta do ataque, e dali há dois minutos o Grêmio consagraria sua classificação para a próxima fase.

Arrogância e salto alto
Até meia-dúzia de jogos atrás eu apoiava incondicionalmente o Muricy. Hoje, só não peço sua cabeça porque sei que não há bons treinadores no mercado. Porra, porque o filhodaputa não coloca o Jorge Wagner e o Dagoberto desde o começo da partida? Se ele tivesse feito isso ainda no primeiro tempo, quiça no jogo de ida aqui no Morumbi, o resultado certamente teria sido outro.

Qualquer cabaço em futebol — como eu — sabe que o time só começou a funcionar quando esses dois meliantes entraram em campo. Tenho meu palpite: eles estão dando raça porque são novos no clube e ainda não respiraram aquele ar de arrogância e prepotência de quem vê o São Paulo como o melhor clube do país.

No geral, os atletas do plantel não se mostraram raçudos. Ficaram naquele toque de bola burocrático, não se moveram e nem criaram jogadas. Isso só mudou no segundo tempo, como eu escrevi aí em cima.

O Hugo não esta fazendo nada do que deveria: fica lá na frente, não arma uma jogada decente e não chuta uma bola. Aloísio é outro que está péssimo como pivot: pouco objetivo, não volta a bola, não finaliza e sofre faltas propositadamente para que o Rogério as cobre.

Jadílson, a meu ver, vem fazendo seu feijão com arroz. Souza, mesmo sendo razoavelmente habilidoso, teve uma atuação apagada ontem, perdendo várias bolas na marcação e errando mais passes do que deveria.

Ilsinho foi um que jogou bem, avançando sempre que podia e se movimentando bem. Sem contar o lance espetacular em que pedalou e deu um giro sobre a bola, livrando-se de dois zagueiros até sofrer falta da desnorteada zaga gaúcha.

(Mas me disseram que ele bobeou na marcação no primeiro gol, então posso estar falando merda pelo fato de não ter visto o começo do jogo).

Agora um que não dá pra defender é o Richarlysson. Literalmente, esse sim deve usar salto-alto. O cidadão não faz absolutamente nada certo.

Quando vai pra frente, adianta demais a bola e perde quase todas; quando fica mais recuado, não ganha uma disputa e dá passes "na fogueira" totalmente desnecessários. Não cria uma jogada e é frágil como um flor nas divididas. E errou na marcacão durante o segundo gol.

Pior que isso só a insistência do treinador em deixar ele no time enquanto o Fredson fica no banco. Inexplicável.

A zaga são-paulina precisa, sem exceções, tomar um chacoalhão. Os dois gols do Grêmio saíram de rebotes facilitados — e muito — pela ausência de marcadores.

Acho que o lance é esperar pelo Brasileiro. No fundo, essa derrota até fez bem para os jogadores descerem do salto-alto e serem menos prepotentes. Mas para nós, torcedores, continua sendo uma derrota de merda, que não nos tirou o grito de garganta nem deixou dar uma banana pros gremistas do bar ao lado.

E, parafraseando meu amigo Biro, quero ver onde o Muricy vai enfiar aquela marra toda a partir de agora.

terça-feira, 8 de maio de 2007

A paralisação do Meio&Mensagem

Numa época em que os salários são baixos e os estagiários são mão-de-obra qualificada barata; numa época em que há filas de pessoas querendo roubar nossos empregos; numa época em que registro em carteira é algo do qual você apenas ouviu falar, o inesperado aconteceu: uma greve.

E não foi uma greve qualquer: a redação do Meio&Mensagem realizou hoje uma paralisação de protesto contra a demissão de seu editor-adjunto, Costábile Nicolleta. Ao todo, 13 jornalistas aderiram ao movimento, com exceção de uma jovem pelega que alegou estar em "período de experiência".

O Meio&Mensagem é um jornal semanal que cobre principalmente os setores de comunicação e publicidade. Segundo os funcionários do periódico, Costábille foi chutado porque aprovou a publicação de um obituário sobre a morte de Octávio Frias, fundador da Folha de S. Paulo.

Até aí, nada demais. O problema é que o texto continha um pedaço de verdade: dizia que o empresário fora apoiador do regime militar e entusiasta do golpe de 64.

Isso não é mentira e sempre foi fato público e notório. Mas, ao que parece, a Folha de S. Paulo resolveu renegar seu passado ideológico, já que hoje em dia o apoio a regimes golpistas não é lá muito bem visto pela esmagadora maioria de seus leitores.

Afinal, no Brasil, só o governo popular-socialista do camarada Lula é ditatorial, anti-democrático, feio e mau. A imprensa é do bem, plural e não tem rabo preso com seus patrocinadores.

O segundo e maior problema é que a Folha é uma das maiores anunciantes do Meio&Mensagem. E nessa atividade democrática e combativa que é o jornalismo, não é bacana criticar quem anúncia nos jornais.

Imoralidades à parte, a greve chama a atenção não pelos seus motivos, mas sim por seus efeitos: ela mostra que é possível, sim, mobilizar uma classe de profissionais pela busca de soluções para os problemas cotidianos de sua profissão.

A propósito, para combater casos de coação moral como esse nas redações, os sindicatos da categoria tem como principal proposta a criação de comitês de redação.

Os comitês existem há bastante tempo em diversos países da Europa, e funcionam como instâncias onde os jornalistas da redação de um determinado jornal têm poder sobre a política editorial dos veículos para os quais trabalham, assegurando sua independência em relação a anunciantes e outras formas de poder econômico.

Esse poder é exercido em assembléias, como nos diários franceses, ou por meio de estatutos e regulamentos, como no caso do espanhol El País. Não se trata de se rebelar contra linhas editoriais pré-estabelecidas, mas apenas de respeitar o que de fato foi previamente acordado entre os donos do jornal e os jornalistas por ele empregados.

É claro que sempre haverá ingerência nos jornais. No entanto, esse tipo de medida reduz consideravelmente a margem para tosquisses como a que foi cometida contra Costábile.

Assim, fica garantida a pluralidade de opiniões na imprensa e a coerência dos meios de comunicação com suas próprias linhas editoriais sem que haja necessidade de prostituir seus jornalistas aos anseios de anunciantes e patrocinadores.

Em meio a essa relação incestuosa, fica difícil não citar Mino Carta:
"O Brasil é o único país do mundo onde os jornalistas chamam seus patrões de jornalistas".
Pensando bem, deve ser por isso que aqui lutamos sem medo pela liberdade de empresa. Quer dizer, de imprensa.

segunda-feira, 7 de maio de 2007

Internet à brasileira

William Bonner me informa hoje à noite que o governo socialista-revolucionário petista fechou acordo com as empresas de telefonia fixa para facilitar o acesso à internet para as pessoas de baixa renda — popularmente conhecidas como pobres.

Pelo acordo, as telefônicas instaladas no país cobrarão, a partir de julho, R$ 7 de assinatura por 10 horas mensais de acesso discado à rede. O acesso discado é feito a uma velocidade de incríveis 56kbps.

Tão incríveis quanto a disposição das teles em investir no país.

Em São Paulo, a mensalidade do Speedy Light é de R$ 60, mais o provedor, que não sai por menos de R$ 20. Ou seja, paga-se 40 U$ para ter em casa uma conexão de 256kbps, apenas cinco vezes mais rápida que o acesso por telefone.

Na Coréia da Sul, onde as teles também foram privatizadas, a conexão média é de 10mbps por U$ 35 mensais (R$ 70).
Para se ter uma idéia do benefício que nos é oferecido, lá paga-se mais barato do que aqui por uma conexão 40 vezes mais rápida que a nossa. Isso quase onze anos depois dos tucanos terem vendido as teles estatais.

Afinal, por que então diabos existe essa discrepância toda entre os modelo do Brasil e da Coréia do Sul, que promovem a competição justa entre os agentes de seus respectivos mercados?

Deve ser porque no Brasil não há cartel nem monopólio no setor de telecomunicações.

sábado, 5 de maio de 2007

Listas, Bono Vox e U2

A revista Rolling Stone publicou, em sua última edição, uma lista com os 25 artistas mais subestimados do rock. Dentro os injustiçados, de acordo com a equipe da publicação, estão bandas como Fugazi e Dinosaur Jr., além de Sonic Youth e Sleater-Kinney — essa última, aliás, muito me agrada. No topo da relação está o veterano cantor norte-americanao Tom Waits.

1. Tom Waits
2. The Replacements
3. Cheap Trick
4. Sonic Youth
5. Warren Zevon
6. Big Star
7. The Pharcyde
8. Roxy Music
9. Talking Heads
10. Bob Seger
11. The Hold Steady
12. Fugazi
13. The Cramps
14. The New York Dolls
15. The Band
16. The Cars
17. Pogues
18. Alice Cooper
19. Dinosaur Jr
20. Sleater-Kinney
21. Husker Du
22. Devo
23. Wilco
24. Tom Petty
25. Ween
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Por aqui, a seção de música do IG repercutiu a lista da Rolling Stone e elaborou uma enquete para escolher a banda mais SUPERestimada do rock. Meu voto foi, sem um pingo de hesitação, para o U2.

Gosto de algum material da banda, especialmente aquele do começo dos anos 80. Mas, sinceramente, acho que o U2 não tem nada de especial no que diz respeito as suas letras, além de manter, ao longo de mais de 20 anos, a mesma fórmula para compor suas canções — exceção feita ao disco Pop. É insuportável ouvir aquela linha de baixo monocórdica em todas as músicas do U2.

Além disso, a banda deu um salto de popularidade imenso por causa de suas turnês faraônicas, o que me faz pensar que eles se garantem mais pela forma do que pelo conteúdo. Tendo a desconfiar seriamente de artistas que capricham demais no visual e na teatralidade de seus espetáculos.

Porra, eu quero música, sentimento, emoção, não quero ficar vendo o The Edge dando piruetas num cenário de 100km².

Palco de show do U2: quanto mais se mostra, mais se esconde

Isso sem contar o oba-oba em torno do Bono Vox, novo líder mundial para assuntos de salvação do planeta. É muito fácil acabar com a fome enquanto se sonega impostos, né, garotão?

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Voltando à lista, eu diria que bandas como Radiohead, Strokes e Oasis também não estão com essa bola toda. Todas são boas, mas estão muito aquém do burburinho que as cercam.

À primeira vista tem-se a impressão de que todas as bandas novas são revolucionárias, são a salvação do rock. Os criticos inflam qualquer coisa que aparece na ânsia de descobrir antecipadamente o novo Nirvana, para depois dizerem: "Viu, eu não falei!?".

Mas chega de lenga-lenga. Para votar na enquete da banda mais superestimada do rock, clique aqui.

quinta-feira, 3 de maio de 2007

A alegoria da FEBEM

A polícia recapturou, na manhã desta quinta-feira, Roberto Alves Cardoso, o Champinha. Ele havia fugido, na quarta-feira, da Febem da Vila Maria, onde estava desde 2003, quando foi condenado e preso pelo assassinato de um casal de adolescentes na Grande São Paulo. No curto intervalo em que esteve foragido, Champinha trouxe à tona novamente o debate sobre a redução da maioridade penal.

A redução da maioridade penal de 18 para 16 anos é vista por seus defensores como uma maneira de inibir a ação criminosa, uma vez que, aprovada a medida, não haveria mais "regalias" para os adolescentes infratores — como alegadamente existe hoje sob o guarda-chuva do Estatuto da Criança e do Adolescente, o ECA. O menor, sabendo que permaneceria encarcerado por mais tempo caso fosse preso, sentiria-se desistimulado a praticar novos delitos.

Esse argumento se baseia numa visão intimidadora da justiça. Dados da organização norte-americana Death Penalty Information Center mostram, no entanto, que esse modelo intimidatório não surtem o efeito esperado. Nos Estados Unidos, entre o período de 1990 a 2005, as taxas de homicídio foram percentualmente mais baixas nos estados onde
não há pena de morte.
"In 1990, the murder rates in these two groups were 4% apart. By 2000, the murder rate in the death penalty states was 35% higher than the rate in states without the death penalty. In 2001, the gap between non-death penalty states and states with the death penalty again grew, reaching 37%. For 2002, the number stands at 36%."
Por trás dessa proposta está também a intenção de dar aos menores delituosos as mesmas condições de ressocialização oferecidas aos adultos. Ou seja, nenhuma. Pergunta-se: se as condições de recuperação são as mesmas (ou até piores), qual a vantagem em jogar os deliqüentes juvenis no mesmo cárcere de criminosos experientes e velhos-de-guerra?

Resposta: com a maioridade penal reduzida, os adolescentes infratores ficarão presos pelo mesmo período de tempo que os adultos e, com isso, manter-se-ão distantes de quaisquer tipos de convívio social. Assim joga-se, mais uma vez, a poeira para debaixo do debate ao combater apenas um dos efeitos do problema, e não sua causa.

Se a lógica de punição por isolamento social for seguida a rigor, a única solução para criminosos "sem condição" de reintegração social seria a morte pura e simples. Daí decorrem dilemas éticos graves: 1) ao permitir a pena de morte, o Estado estaria institucionalizando a mais pura e simples vingança; 2) quem decide e como decide quais os criminosos "irrecuperáveis"?

A criminalidade como fardo social

Cotidianamente, o cidadão - em especial aquele das classes populares - é açoitado pela falta de serviços de saúde, educação e saneamento, para não falar do desemprego e da absurda quantia de subempregados. O Estado brasileiro está a anos-luz de oferecer a todos os seus cidadão os direitos básicos garantidos em lei.

Seria no mínimo imoral endurecer uma legislação que afeta principalmente quem não vê seus direitos respeitados no dia-a-dia.

Há também quem defenda a redução da maioridade penal argumentando que há pessoas que não têm condições de se reintegrarem à sociedade, como parece ser o caso do tal Champinha. De fato, deveria haver penas diferenciadas e mais severas para determinados tipos de crimes. É possível fazer isso com pequenas reformas na legislação penal que permitam aos juízes analisar caso a caso os delitos cometidos, sem que seja necessário reformular o código vigente.

Uma coisa é estabelecer punições diferenciadas para casos específicos; outra, totalmente diferente, é mudar uma legislação — que é considerada avançada inclusive por grupos de direitos humanos — para satisfazer emocionalmente a sociedade como um todo.

Exposição midiática e ganhos eleitorais

Além do mais, é ingenuidade tomar casos isolados como regra. Não é porque casos como este são repercutidos intensamente pela mídia que eles são, necessariamente, corriqueiros. Crime brutais como o que foi cometido por Champinha possuem características jornalísticas que os tornam atrativos como notícia, mas que nem por isso correspondem à realidade estatística da criminalidade. No máximo, contribuem para um aumento expressivo na percepção que a sociedade tem da violência.

A redução da maioridade já foi aprovada pelo CCJ (Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania) do Senado. Se aprovada, a medida vai atropelar disposição contrária do ECA. Será mais uma de uma série histórica de manobras ilegais perpetradas contra os mecanismos constitucionais do Estado.

Politicamente, a aprovação da redução da maioridade penal é conquista da direita nativa com endereço certo: a classe-média das grandes metrópoles do país, justamente as regiões mais afetadas pela violência urbana. No fundo, dá-se a impressão que os debates sobre a redução da maioridade penal são apenas um factóide para encher as páginas de opinião dos jornais e render dividendos políticos a seus ideólogos junto à população.


Modernização conservadora

A violência é um problema? Sem dúvida, e há maneiras de combatê-la sem criarmos um código penal fascista. Também não é preciso esperar pela próxima geração de brasileiros educados e bem-alimentados para reduzirmos a criminalidade.

Para diminuir a violência urbana é preciso, antes de mais nada, reaprender a enxergar os tons de cinza, bem como fugir das falsas dicotomias do discurso eleitoreiro.

A redução da maioridade penal é mais uma reencarnação dos tradicionais métodos de modernização conservadora aplicados pelas elites políticas e sociais do país ao longo de nossa história. Não devemos aceitar uma discussão que, fiel ao "jeitinho brasileiro", propõe mudar tudo — mas sem mudar nada.





Perfil do estudante D. é encontrado morto em SP

Foi encontrado morto, na manhã de sábado, 28 de abril, o perfil virtual do estudante de jornalismo D., de 21 anos.

A polícia suspeita de orkutícidio, mas as investigações não descartam a hipótese de crime passional, encheção de saco e falta de empenho nos estudos por parte da vítima.

Fontes próximas ao estudante reveleram que D. vinha se mostrando infeliz com sua vida demasiadamente nerd e que ele já vinha planejando se dedicar mais aos livros e filmes, aos amigos e a sua carreira de rockstar.

"É muito triste que isso tenha acontecido a uma pessoa tão jovem e com um futuro deveras promissor pela frente", afirmou o delegado Büyükkökten, responsável pelo caso.

Também foram encontrados no local do crime bilhetes com o endereço de email de D. e com a inscrição "See in you in another life, brotha". Ao que parece, essa foi última tentativa do estudante de manter contato com seus amigos e familiares fora do ambiente orkutiano.

As investigações devem ser concluídas em até 7 dias. Contactada pela reportagem, a família da vítima, abalada, não quis se pronunciar sobre o caso. O enterro será no Cemitério Profiles de Gente Morta, em São Paulo.

terça-feira, 1 de maio de 2007

"Ekke Ekke Ekke Ptang Zoo Boing!"

Em 5 de outubro de 1969, era veiculado pela BBC o primeiro episódio do Monty Python, trupe de seis comediantes retardados formada por Eric Idle, Terry Gilliam, John Cleese, Terry Jones, Graham Chapman e Michael Pallin. Ao longo de quatro temporadas na TV, foram exibidos 45 episódios. No entanto, o sucesso do Monty Python não se restringiu à telinha: foram produzidos diversos discos, encenações teatrais e filmes - dos quais os mais famosos são A Vida de Brian, O Sentido da Vida e Em Busca do Cálice Sagrado.

Ontem chegou minha vez de assistir Monty Python Em Busca do Cálice Sagrado. Nesse filme, de 1975, os pythons viajam pela Inglaterra da idade média para achar o Cálice Sagrado. Liderados por "Artur, Rei dos britânicos", são obrigados a enfrentar todo tipo de obstáculo para alcançar seu objetivo — embora nem sempre consigam.

No decorrer das aventuras, os cavaleiros são colocados diante de tarefas homéricas, tais como desviar de vacas voadoras, lutar contra coelhos assassinos e responder a perguntas do tipo "qual sua cor favorita?". Além disso, eles se vêem obrigados a atender os anseios dos famosos Cavaleiros que Dizem "Ni", numa das melhores cenas de nonsense já vistas no cinema.

Veja por si mesmo:






SEN-SA-CIO-NAL!

Ao usar a Inglaterra medieval como pano-de-fundo para suas aventuras, os integrantes do Monty Python fazem uma crítica aos paradigmas de cultura e "bons costumes" da sociedade britânica moderna. Na época do lançamento, muito do que se via no filme podia ser considerado imoral, à semelhança do que ocorrera no final dos anos 60 com o lançamento do disco Beggars Banquet, dos Rolling Stones.

Vale lembrar que John Cleese foi a primeira pessoa a falar a palavra "merda" na história da TV britânica.

Os textos do filme, aliás, são excelentes, com trocadilhos e diálogos inteligentíssimos, como quando o Rei Artur tenta convencer um camponês anarco-sindicalista (?!) a sair em busca do cálice e acaba discutindo com ele as relações de poder existentes na monarquia. Os trejeitos hilários dos personagens, a sutileza da ironia embutida em cada uma das piadas e os comentários simplesmente idiotas fazem do filme um festival de anarquia cômica. Tudo isso apimentado por uma atemporalidade caótica que surpreende a cada cena.

Quem assistir Monty Python Em Busca do Cálice Sagrado vai sacar de primeira que o orçamento para a produção do filme foi enxuto. A utilização proposital de maquetes e desenhos animados é uma constante, o que dá ao filme uma aparência ainda mais e bizarra e absurda do que já lhe é garantido pelos diálogos e pela atuação dos humoristas. Esteja certo que os caras do Hermes e Renato já assistiram MUITO Month Python.

Minha dica é: não perca tempo; faça como eles.


PS: há quase 5 anos, quando era ainda mais burro do que hoje, vi Em Busca do Cálice Sagrado pela primeira vez. Naquela época, não achei graça nenhuma. Mas o problema era meu, não do filme. Portanto, antes de assistí-lo, dê uma lida nos seus melhores livros e faça seu cérebro voltar a funcionar. Demorou, mas eu consegui.

segunda-feira, 30 de abril de 2007

1992

Era formatura da pré-escola em mais uma escola pública da zona norte paulistana. Sentado num banco de plástico branco, com as mãos inquietas, o pequeno D. aguardava ansiosamente pela entrega do diploma, que vinha envolto num rídiculo canudinho preto e vermelho. Também estava programada para aquela noite de sábado a tradicional — e não menos ridícula — valsa, onde os alunos dançariam por dez minutos com suas colegas de sala.

À medida que o tempo corria, o salão — mentira, era o pátio da escola — ia ficando cada vez mais aborrotado de parentes. Em pouco tempo, não havia mais cadeiras vazias; o cheiro de carne louca já dominava o ambiente. Mãe, avó, tios, professores, coleguinhas. Todos estavam lá. Até mesmo o pai de D., presença rara à época, compareceu.

A todo momento D. voltava o olhar na esperança de avistar C., sua parceria de dança. No entanto, C. não dava sinais de vida. Passaram-se duas horas, e os passos ensaiados já podiam ser vistos pelos pais orgulhosos. Todos dançavam, D. continuava com a bunda fincada na banqueta. E nada de C.

D. não tinha idade, discernimento nem tamanho (se bem que isso D. não tem até hoje) para admitir, mas ele sabia que sua angústia não era fruto apenas dum atraso de mais de duas horas. No fundo, D. tinha nutria uma pontinha de "sentimento", daqueles bem piegas mesmo, por seu par de dança.

E lá veio C. Não chegou a tempo de dançar com D., é verdade. Comprimentou D. sem mal olhar para ele, e voltou para o lado de sua mãe. Parecia não ter esquecido de nada, e com isso deu a largada para a série infindável de foras que D. viria a receber na posteridade.

domingo, 29 de abril de 2007

Cornetas

Depois da derrota do São Paulo para o São Caetano no paulistão, um amigo disse que havia se cansado das presepadas cometidas pelo Muricy. Afirmou, inclusive, que uma "nuvem negra" assolava o tricolor, tal qual o espectro do comunismo rondava a Europa no século retrasado. Para rebater esse absurdo, publiquei o texto abaixo - originalmente como comentário - no blog do Pedro, esse meu coleguinha virtual.

Não entendo como se pode criticar tão incisivamente um técnico - a ponto de considerá-lo apenas um preparador físico - tão somente por uma seqüência de dois jogos ruins.

O primeiro deles, contra o São Caetano, foi vexatório mesmo. Já o desta quarta-feira, contra o Audax, poderia ter sido bem pior caso o São Paulo tivesse perdido.

Vale lembrar que, nas últimas 20 partidas, o São Paulo perdeu apenas 4 ou 5, senão me engano. Levando em consideração que disputamos dois torneios simultaneamente, é um ótimo resultado.

No entanto, o conjunto do São Paulo, reconheço, está jogando com o salto muito alto nas últimas partidas. Alguns jogadores não estão honrando o salário que recebem. Outros, na ânsia por se tornarem heróis do time, esquecem do futebol coletivo.

Porém esse não é, ainda, um problema estrutural, como foi no Corinthians que, mesmo tendo um ótimo elenco, foi sendo centrifugado pelo ego do plantel.

Individualmente, Aloísio é um dos jogdores que mais tem deixado a desejar em suas funções: não gira, erra os passes de volta para os centro-avantes e não finaliza uma bola com precisão há tempos. Estou começando a ficar com saudades do Grafite, veja você.

Poderia também citar o Souza, que tá firulando muito com nenhuma objetividade; o Leandro, que apesar de esforçado, só corre, dá cortes em si mesmo e cruza a bola para o Nada; e o André Dias, esse sim um jogador que prometia, mas cuja moral em alta ofuscou seu futebol desde que chegou à equipe.

Alegra-me lembrar que jogadores como Josué, Ilsinho e Jadilson estejam no tricolor. É um sinal de que temos, sim, um time de boa qualidade e que pode manter um bom nível de futebol até o fim do ano.

Mesmo assim, os corneteiros tricolores de plantão parecem crianças mimadas que não aceitam aquilo que é essencial ao esporte: num dia se ganha, noutro se perde.

Ao menor sinal de derrota, enxergam uma crise pela frente. Apoiar o time na hora do aperto que é bom, nada. Não percebem que os apertos que o São Paulo tomou nos últimos jogos constituem a excessão que confirma a regra.

Confiança, camaradas: a Libertadores é nossa!