sábado, 6 de outubro de 2007

Tropa de Elite

Publicado originalmente na comunidade Botequim Socialista

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Vi ontem Tropa de Elite. Minha mão coçou, não me agüentei e aqui vão algumas impressões:

Não achei o filme fascista, como a maioria. O fato do longa mostrar as relações sociais do tráfico pela ótica do BOPE não significa uma adesão automática à lógica policial. Esse argumento me parece maniqueísta. Como disseram alguns aqui, entre eles o Phantom, precisamos de filmes que mostrem a visão do outro lado. Até porque para vencer o inimigo é preciso entendê-lo, não?

Uma coisa que me chamou a atenção foi que, durante todo o filme, a polícia, representada pelo cap. Nascimento, diverge da classe média, travestida sob a figura dos estudantes. A crítica da esquerda diz que a polícia só bate em pobre e protege a playboizada, isto é, da classe média. Como divergir da classe média então?

Por aí já não acho que o filme assine embaixo do BOPE, não.

Por outro lado, a narrativa glamuriza, sim, as ações do BOPE, mas, a meu ver, isso é mais uma exigência mercadológica, vamos dizer assim, do que um apoio irrestrito às práticas ali retratadas. Isso também depende de quem vê o filme: eu não acho legal ver o cap. Nascimento ensacando a mulecada só porque ele é honesto dentro da corporação. Uma coisa não tem nada a ver com a outra.

Aliás, o BOPE é glamurizado por ser honesto dentro dos parâmetros do mundo policial, os quais, como é mostrado no longa-metragem, não são exatamente bons.

A meu ver, ninguém ali no filme escapa da crítica: BOPE, PM, traficantes, ONG’s que mantém relações “amistosas” com o tráfico e, principalmente, a classe média. Para mim a instituição mais criticada no filme é a classe média. Numa analogia, o baseado do estudante pode ser considerado a renda que essa classe (e daí pra cima) não quer distribuir nem a pau — assim como o muleque não quer deixar de fumar unzinho.

Além disso, o universitário-traficante protestando contra a violência é a imagem cuspida e escarrada do comportamento da elite brasileira: se omite a vida inteira dos problemas que ela mesma criou para a sociedade, mas resolve protestar quando esse mesmo problema bate a sua porta. De acordo com essa interpretação, a cena do Matias dando bicuda no estudante em meio ao protesto foi, para mim, a mais catártica de todo o filme.

O filme tem três méritos: 1) não aponta culpados, e sim mostra que o problema do tráfico e da violência só vai ser resolvido quando o Estado investir no morro ao invés de só ficar na repressão. 2) mostrar que cada ente envolvido nessa luta tem sua própria lógica e não uma brutalidade inata; 3) estimular, e muito, a discussão. Esse é o principal.

E o Wagner Moura é mesmo um puta ator, hehehe!

Enfim, é isso.

4 comentários:

Anônimo disse...

Eu ia ver o filme hoje - José Padilha na direção e Wagner Moura no papel principal já valem o ingresso -, mas a vergonhosa derrota para o Corinthians me embrulhou o estômago. Humpf.

Fica pra semana que vem.

Anônimo disse...

Para mim o filme também não defende lado nenhum. A cena do Matias batendo no estudante durante a passeata é sem dúvida uma daquelas cenas que faltavam no cinema. É um tapa na cara da classe média, mas acho que ela ainda não percebeu, porque no cinema no qual eu assisti o filme as pessoas riram nas cenas de tortura.

Anônimo disse...

Achei seu blog na net depois de umas pesquisas sobre velocidade de internet no Brasil e no mundo. Li algunas artigos e resolvi comentar o que fala sobre Tropa de Elite.

Entendo o filme como a apresentação do que todo mundo sabe mas ninguém sabe. Entende?

Do lado das forças policiais, o "SISTEMA" é simplesmente irreversível. Não é simplesmente achar que os policiais não deveriam fazer o que fazem, pois isso já é bem mais antigo do que nós mesmos. Muito mesmo. Fomos "edudcados" de forma errada. Isso vem desde a colonização. Se fizermos uma comparação, achamos "loucos" os homens-bombas por acabarem com a própria vida para matar, as vezes, ninguém. Mas quando crianças, seus pais o ensinaram que pra ter sentido para o país e pra "causa", seria preciso demonstrar coragem e fazer tal coisa.

Do lado do tráfico, os homens que comandam os morros são, efetivamente, excelentes empreendedores! Como assim? Droga é um produto proibido e só por isso já desperta o desejo das pessoas. Além de seus efeitos. Tudo isso vale muita grana. Mas a burguesia dispõe desse recurso para comprá-la. Então vamos vender! Mas é proibido... E dái? A gente dá um "jeitinho".

Os moradores do morro tem a opção de ganhar muita grana, viver de farras e bailes e aonda ser considerado "gente" ou ser um "honesto", trabalhar muito pra ganhar uma merreca e ainda ser tratado feito bixo. Difícil de escolher?

Chamem Malbaaan!

Hugo Oliveira

Carol disse...

Vou comprar um uniforme do Capitão Nacimento para você... é a última moda na Uruguaiana!
Será que irá ficar grande?! Para todos os casos dá para fazer a bainha...