A paralisação do Meio&Mensagem
Numa época em que os salários são baixos e os estagiários são mão-de-obra qualificada barata; numa época em que há filas de pessoas querendo roubar nossos empregos; numa época em que registro em carteira é algo do qual você apenas ouviu falar, o inesperado aconteceu: uma greve.
E não foi uma greve qualquer: a redação do Meio&Mensagem realizou hoje uma paralisação de protesto contra a demissão de seu editor-adjunto, Costábile Nicolleta. Ao todo, 13 jornalistas aderiram ao movimento, com exceção de uma jovem pelega que alegou estar em "período de experiência".
O Meio&Mensagem é um jornal semanal que cobre principalmente os setores de comunicação e publicidade. Segundo os funcionários do periódico, Costábille foi chutado porque aprovou a publicação de um obituário sobre a morte de Octávio Frias, fundador da Folha de S. Paulo.
Até aí, nada demais. O problema é que o texto continha um pedaço de verdade: dizia que o empresário fora apoiador do regime militar e entusiasta do golpe de 64.
E não foi uma greve qualquer: a redação do Meio&Mensagem realizou hoje uma paralisação de protesto contra a demissão de seu editor-adjunto, Costábile Nicolleta. Ao todo, 13 jornalistas aderiram ao movimento, com exceção de uma jovem pelega que alegou estar em "período de experiência".
O Meio&Mensagem é um jornal semanal que cobre principalmente os setores de comunicação e publicidade. Segundo os funcionários do periódico, Costábille foi chutado porque aprovou a publicação de um obituário sobre a morte de Octávio Frias, fundador da Folha de S. Paulo.
Até aí, nada demais. O problema é que o texto continha um pedaço de verdade: dizia que o empresário fora apoiador do regime militar e entusiasta do golpe de 64.
Isso não é mentira e sempre foi fato público e notório. Mas, ao que parece, a Folha de S. Paulo resolveu renegar seu passado ideológico, já que hoje em dia o apoio a regimes golpistas não é lá muito bem visto pela esmagadora maioria de seus leitores.
Afinal, no Brasil, só o governo popular-socialista do camarada Lula é ditatorial, anti-democrático, feio e mau. A imprensa é do bem, plural e não tem rabo preso com seus patrocinadores.
O segundo e maior problema é que a Folha é uma das maiores anunciantes do Meio&Mensagem. E nessa atividade democrática e combativa que é o jornalismo, não é bacana criticar quem anúncia nos jornais.
Afinal, no Brasil, só o governo popular-socialista do camarada Lula é ditatorial, anti-democrático, feio e mau. A imprensa é do bem, plural e não tem rabo preso com seus patrocinadores.
O segundo e maior problema é que a Folha é uma das maiores anunciantes do Meio&Mensagem. E nessa atividade democrática e combativa que é o jornalismo, não é bacana criticar quem anúncia nos jornais.
Imoralidades à parte, a greve chama a atenção não pelos seus motivos, mas sim por seus efeitos: ela mostra que é possível, sim, mobilizar uma classe de profissionais pela busca de soluções para os problemas cotidianos de sua profissão.
A propósito, para combater casos de coação moral como esse nas redações, os sindicatos da categoria tem como principal proposta a criação de comitês de redação.
Os comitês existem há bastante tempo em diversos países da Europa, e funcionam como instâncias onde os jornalistas da redação de um determinado jornal têm poder sobre a política editorial dos veículos para os quais trabalham, assegurando sua independência em relação a anunciantes e outras formas de poder econômico.
Esse poder é exercido em assembléias, como nos diários franceses, ou por meio de estatutos e regulamentos, como no caso do espanhol El País. Não se trata de se rebelar contra linhas editoriais pré-estabelecidas, mas apenas de respeitar o que de fato foi previamente acordado entre os donos do jornal e os jornalistas por ele empregados.
É claro que sempre haverá ingerência nos jornais. No entanto, esse tipo de medida reduz consideravelmente a margem para tosquisses como a que foi cometida contra Costábile.
Assim, fica garantida a pluralidade de opiniões na imprensa e a coerência dos meios de comunicação com suas próprias linhas editoriais sem que haja necessidade de prostituir seus jornalistas aos anseios de anunciantes e patrocinadores.
Em meio a essa relação incestuosa, fica difícil não citar Mino Carta:
"O Brasil é o único país do mundo onde os jornalistas chamam seus patrões de jornalistas".Pensando bem, deve ser por isso que aqui lutamos sem medo pela liberdade de empresa. Quer dizer, de imprensa.
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