sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Bateu, sim!

Algumas coisas não mudam.

Quinta-feira, voltando pra casa, dormindo no busão. Acordo assustado, seco a baba e ouço a gritaria.

- Abre, abre, abre!

Um tiozão duns 60 anos, camisa bem alinhada e calça à altura do pescoço, espumava. Ensandecido, acusou o motorista de ter batido o coletivo no carro dele - Honda Fit tinindo.

- Como, se o busão tava parado?

E lá se foi o motorista, acompanhado de seu fiel ajudante, o cobrador. Perplexidade entre os passageiros, presos no coletivo. Enquanto isso, numa calçada da Nove de Julho, o tiozão do Fit continuava chilicando, tipo criança que não ganhou Playstation 3 de aniversário.

- VOCÊ BATEU SIM! VOCÊ BATEU SIM! VOCÊ (dedo na cara) BATEU SIM!

Cobrador e motorista não observaram nenhum sinal de batida no bumba. A mulher do véio pitizento argumentou que os passageiros do ponto testemunharam a cena. Nenhum deles se manifestou.

Logo veio a suspeita: armação para engambelar seguradora.

Também veio o nervosismo. Passageiros começaram a gritar para saírem dali. Do nada surge o reclamente, e tira a chave do contato do busão. O cobrador parte pra cima, e ouve:

- Você é polícia? Não? Então foda-se!

O tiozão leva a chave consigo. Aproveita distração do motorista, manobra o carro, sai pela calçada. Pela calçada, e com a chave. Cobrador: "ele levou a chave?". Motorista: "caralho, levou!".

E disparam a correr.

Alcançam o meliante parado num semáforo alguns metros adiante, esquina com a São Gabriel. Joga a chave longe, cai dentro dum prédio. E volta pra casa com o carro misteriosamente amassado.

Passageiros, já na rua, olhavam atônitos, indignados. Ofereciam-se para serem testemunhas do motorista do busão.

Tentavam, aturdidos, entender as razões daquele ato bizonho de egoísmo e mesquinharia. No fundo, sabiam que algumas coisas realmente não mudam.

domingo, 11 de outubro de 2009

Aforisma #1

Macarrão, um amontoado de discos, amor dobrado e Coca-Cola. A alegria está nas ruas, mas é numa casinha de subúrbio que vive a felicidade plena do Carnaval.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Noite

Sentia frio, mas o termômetro batia quase no três digitos. Não sabia donde vinha aquela sensação. Não era metereologia, é certo. Frio do mundo, da vida, do outro. Quiça de si mesmo. Estava a procurar o calor, mas só encontrara pedras, uma confusão no meio da rua e uma alma quebrada. Faltava pouco. Em instantes, mais nada veria. Cerrar-lhe-ia os olhos com o adeus à luz. Em deus não botava fé, mas nele - conte pra ninguém - buscava impulso pro acordar seguinte. Travesseiro, despertador, cabeceira. Amém. É o frio.