quinta-feira, 24 de maio de 2007

Omissão e Reação

O governador de São Paulo, José Serra, promulgou uma série de decretos ambigüos que dão margem para a destruição da autonomia universitária. Com o fim da autonomia, as verbas que vão para as universidades estaduais públicas ficam sujeitas às conveniências políticas de quem estiver no poder.

O que significa que o governador pode usar dinheiro que deveria ser destinado à pesquisa e produção científica em obras que rendem mais votos, como reformas e ampliações, por exemplo.

Para resistir a esse absurdo, os estudantes, corretamente, ocuparam a reitoria da universidade e decidiram não negociar com a Polícia — afinal a PM é só o porrete de quem emitiu o decreto.

Pois bem. Eis que leio o seguinte na edição de hoje da Folha de S. Paulo:
Para Serra, a questão da desocupação da USP "não é assunto de política do governador", mas da polícia e da Secretaria da Segurança.
É incrível. Como o autor do decreto pode falar que o decreto não é problema dele? A disposição em negociar tem que partir do governo, e não dos estudantes; eles estão apenas reagindo a um problema, não o causando.

Haja cinismo.


De qualquer maneira, o protesto nos ajuda a lembrar que o diálogo, sózinho, nem sempre é a melhor arma. Num imbróglio desses é impossível conseguir uma solução realmente satisfatória sem ferir nenhum interesse.


E se os estudantes cederem à chantagem e saírem, não vão conquistar absolutamente nada.

Lembre-se, camarada, Gandhi está morto. Só o bolchevismo salva!

2 comentários:

Anônimo disse...

Hmmmmmm... Respeito, mas não posso crer que "o diálogo, sozinho, nem sempre é a melhor arma". Como não????

Não tenho nem nunca tive qualquer simpatia pelo Serra - longe disso, aliás -, mas há muito de nebuloso nesse protesto na USP.

Tenho amigos de lá, inclusive, que garantem que o movimento é muito mais político-partidário do que legítimo defensor da tal "autonomia universitária".

E, na boa: não é tirando o direito de ir e vir dos que trabalham na USP que os "manifestantes" vão devolver a "autonomia" à universidade. Há muito mais no meio disso tudo do que imagina a nossa vã filosofia...

Bom senso não faz mal a ninguém, né? E me parece, mesmo de longe, que é o que mais está faltando nesse episódio.

Anônimo disse...

Em tempo: antes que me acusem aqui de "tucano" ou "direitista" (só para constar: sou filiado ao PPS e claramente de esquerda), recomendo a leitura de um post no blog da Soninha (www.gabinetesoninha.zip.net). Trata-se do mais lúcido e equilibrado texto sobre a crise na USP que eu li até agora. Brilhante.