Igreja? Que Igreja?
Há uma semana, o papa Bento XVI chegava ao Brasil para abençoar seus fiéis cordeiros. Veio, orou, passeou no batmóvel e falou umas merdas, como quando disse que o catolicismo não foi imposto aos índios quando os portugueses desembarcaram aqui.
Como são bonzinhos esses lusitanos, veja você!
Além disso, com a visita do Santo Padre a Igreja voltou a ser criticada por seu conservadorismo em relação a temas como aborto e uso de preservativos.
A crítica é altamente pertinente, mas está mal direcionada.
Não estamos em um Estado teocrático, nem vivemos sob uma nova Inquisição; no Brasil, só é católico quem quer. A diversidade de crenças, ritos, seitas e sincretismos por aqui é tamanha que não há espaço para nenhum tipo de coerção religiosa. Ninguém é, portanto, obrigado a deixar de usar camisinha ou casar virgem para satisfazer os anseios de Vossa Santidade.
Por outro lado, a Igreja ainda tem poder político por sua influência em determinados setores da população. Esse poder não é alvo de ataques, e aí está o erro: não interessa se a Igreja prega X ou Y, interessa o número de pessoas que seguem as diretrizes X ou Y.
O problema é, na verdade, a dimensão que damos a esse poder. Há décadas o número de católicos no país vem diminuindo, mas nem por isso o espaço que a Igreja tem na mídia e no espectro social diminuiu. Criou-se então uma discrepância política que só favorece ao clero e seus dogmas.
O poder político da Igreja é muito, mas muito inferior aquele que existia 50 ou 40 anos atrás, quando lindas e meigas senhoras católicas marcharam contra o governo "subversivo" de João Goulart.
Mas se hoje em dia as pessoas não seguem sequer os preceitos mais básicos do catolicismo, porque deveríamos achar que elas seguiriam à risca sua orientação política?
Quantas mulheres virgens com mais de 20 anos você conhece?
E aquela história de "católico não-praticante", não lhe parece conversa de fiel com preguiça de acordar cedo aos domingos?
Hoje em dia Deus não merece uma hora semanal dos católicos.
Quando criticamos Bento XVI por tentar manter a coerência dos ensinamentos do catolicismo, estamos na verdade ajudando a criar no imaginário popular a idéia de que a Igreja é uma instituição que se rebela contra a liberalização dos costumes — e, em menor medida, contra a liberalização econômica.
Essa percepção acaba atraindo simpatia às causas mais conservadoras no que diz respeito ao comportamento. Paradoxalmente, no que diz respeito è economia, a posição da Igreja acaba sendo altamente progressista, já que passa à população uma imagem de instituição séria que não muda seus ideais conforme a demanda do Santo Mercado.
O melhor meio de criticar a Igreja é a ignorando. Deve-se disseminar posições progressistas em relação aos temas com os quais o catolicismo lida, mas não se deve levar em conta a Igreja como principal antagonista nessa disputa de idéias.
Até porque a crítica não deveria ser exercida contra os dogmas da fé católica, mas sim contra o uso político da religião que, mesmo diminuto e fragmentado, ainda pode ser visto em manifestações contra o aborto, por exemplo.
Acabou o expediente. 18h00. Adeus.
Como são bonzinhos esses lusitanos, veja você!
Além disso, com a visita do Santo Padre a Igreja voltou a ser criticada por seu conservadorismo em relação a temas como aborto e uso de preservativos.
A crítica é altamente pertinente, mas está mal direcionada.
Não estamos em um Estado teocrático, nem vivemos sob uma nova Inquisição; no Brasil, só é católico quem quer. A diversidade de crenças, ritos, seitas e sincretismos por aqui é tamanha que não há espaço para nenhum tipo de coerção religiosa. Ninguém é, portanto, obrigado a deixar de usar camisinha ou casar virgem para satisfazer os anseios de Vossa Santidade.
Por outro lado, a Igreja ainda tem poder político por sua influência em determinados setores da população. Esse poder não é alvo de ataques, e aí está o erro: não interessa se a Igreja prega X ou Y, interessa o número de pessoas que seguem as diretrizes X ou Y.
O problema é, na verdade, a dimensão que damos a esse poder. Há décadas o número de católicos no país vem diminuindo, mas nem por isso o espaço que a Igreja tem na mídia e no espectro social diminuiu. Criou-se então uma discrepância política que só favorece ao clero e seus dogmas.
O poder político da Igreja é muito, mas muito inferior aquele que existia 50 ou 40 anos atrás, quando lindas e meigas senhoras católicas marcharam contra o governo "subversivo" de João Goulart.
Mas se hoje em dia as pessoas não seguem sequer os preceitos mais básicos do catolicismo, porque deveríamos achar que elas seguiriam à risca sua orientação política?
Quantas mulheres virgens com mais de 20 anos você conhece?
E aquela história de "católico não-praticante", não lhe parece conversa de fiel com preguiça de acordar cedo aos domingos?
Hoje em dia Deus não merece uma hora semanal dos católicos.
Quando criticamos Bento XVI por tentar manter a coerência dos ensinamentos do catolicismo, estamos na verdade ajudando a criar no imaginário popular a idéia de que a Igreja é uma instituição que se rebela contra a liberalização dos costumes — e, em menor medida, contra a liberalização econômica.
Essa percepção acaba atraindo simpatia às causas mais conservadoras no que diz respeito ao comportamento. Paradoxalmente, no que diz respeito è economia, a posição da Igreja acaba sendo altamente progressista, já que passa à população uma imagem de instituição séria que não muda seus ideais conforme a demanda do Santo Mercado.
O melhor meio de criticar a Igreja é a ignorando. Deve-se disseminar posições progressistas em relação aos temas com os quais o catolicismo lida, mas não se deve levar em conta a Igreja como principal antagonista nessa disputa de idéias.
Até porque a crítica não deveria ser exercida contra os dogmas da fé católica, mas sim contra o uso político da religião que, mesmo diminuto e fragmentado, ainda pode ser visto em manifestações contra o aborto, por exemplo.
Acabou o expediente. 18h00. Adeus.
2 comentários:
Já está devidamente "linkado" nos meus pitacos, rapaz!
E paguei um pau para o layout do teu blog, lá em cima... Hahahaha, sensacional. Abraço.
Tô esperando você escrever alguma coisa sobre a ocupação da reitoria da USP. O seu blog é o único site de jornalístico que eu tenho lido ultimamente. Os outros só me fazem passar nervoso.
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