O frio inconveniente
Pior, tá um frio do caralho: fazem 12º C em São Paulo.
Começa então o martírio polar. Ao levantar, você vai perpetrar aquele número dois matutino de sempre e...pá!, a maldita tampa do vaso gelada. Os glúteos, rijos, entram em estado de choque enquanto você tenta se concentrar na atividade principal.
Terminada a expulsão, é hora de ir pro box tirar o sebo do corpo.
Se você é das classes A ou B e tem uma ducha decente, sem problemas. Agora, tu tá fudido mesmo se for pobre e teu chuveiro for uma gambiarra sem fim: a água sai gelada, e o botão "quente" só existe de enfeite; você tenta abrir mais a torneira, a água continua saindo gelada; melhora um pouco mas, logo depois, volta à temperatura glacial.
Das duas uma: ou você sai do banheiro fedido, caso tenha tomado um banho de gato, ou eletrocutado caso o fio-terra (do chuveiro) não esteja funcionando.
No trabalho, o sofrimento continua: seu dedo, congelado, dói a cada tecla digitada. Teus colegas de trabalho democratas ligam, sem pedir pra ninguém, o ar condicionado em temperaturas subsaarianas pra te lembrar do quão gostoso é pingar de suor em pleno inverno.
Passam-se, três, quatro, até cinco dias nesse estado de coisas até que você seja vitimado pelo influenza. O nariz passa por uma mutação circense, avermelhando-se de tal forma que as pessoas ao seu redor pensem que você é Bozo. A coriza, abundante, aflui em quantidades inapropriadas ao convívio social.
É tanto ranho que os lenços se acabam, e você começa a limpá-lo na manga da blusa mesmo.
Aí vem a o princípio de febre: olho pesado e moleza no corpo, tú fica rodeando que nem uma barata tonta pelos quatro cantos. Tua saúde já deixou de fazer jús ao nome há tempos. E tudo isso pra não falar do pinto encolhido, heim.
Quando menos se espera é sexta-feira, fim de expediente, e você se vê obrigado a convalescer em casa no sabadão, quando o frio já se foi e faz um puta sol lá fora. Não dá nem pra descolar um atestado para cabular o trampo na segunda, já que pro seu patrão gripe é frescura, e não doença.
É claro que, até aqui, a coriza continua jorrando. Já não há hipoglós que salve tuas narinas do falecimento. E assim, com o nariz assado, caminha a humanidade em mais uma semana de outono na Terra da Garoa.