Chorem, não; pular o muro até que é divertido. Houvesse volta, todos deveriam tentar. Como não há, é melhor esperar. O que não é o caso para quem é aflito. Confesso que, antes de partir, tive a curiosidade. Será que vou ver tudo aqui de cima? Melhor dormir, que pensar nesses causos dá bom negócio, não. Falar de coração hoje em dia é falta de virilidade, né? Acorda. Volta, volta, volta. Num dá. Já fui. Deixa de viadeza. Dá uma rola pra ela que cê vira macho pra caralho. Esse tijolo velho, esse azul vindo lá de cima tá ofuscando minha visão. Consigo voltar, não. E agora tô aqui bancando as penitências do pregresso.
Tava youtubando pra passar o tempo com a chuva de ontem e trombei um clipe que não via há algum tempo: Falling In Love (Is Hard On The Knees), do Aerosmith. Tá, foda-se, você deve tá pensando. Pode ser um clipe como qualquer outro pra maioria das pessoas, mas não pra mim.
Eu tinha 10 ou 11 anos, não me lembro ao certo. Só sei que o ano era 1997, e naquela época eu era um protótipo de gente que só sabia jogar videogame e três dentro-três fora na rua. Num belo dia, tava vendo TV e comecei a zapear sem o menor compromisso com nada.
De repente, me vem aquele cidadão com cartola, um "love" enorme escrito em letras verdes frorescentes (BLUE, Ice) e, lógico, um som fudido de bom. Só deu tempo de pensar QUE BEM LOUCO. Cabou o clipe, e eu lembro de ter ficado, assim, meio EUFÓRICO.
Pronto. Eu acabava de ser introduzido (ui) no mundo do rock.
I feel like I have been hit by a fuck
Dei uma puta sorte. Naquela época, eu tinha uma TV de madeira (ok, era o acabamento, não a TV em si). Vez ou outra, a antena voltava a me amar e sintonizava uns canais de compra e outras coisas meio nada a ver. Cara, eu juro: nem sabia que a MTV existia!
(Também, né... Convenhámos: Prum pré-adolescente dos anos 90, o mundo televisivo se resumia à Chaves & Chapolin, Sessão da Tarde e Emanuelle na Band nas noites de sexta-feira)
Mas voltemos ao motivo do post.
No dia seguinte, procurei de novo o canal em que eu havia visto o clipe. E fui me inteirando da programação. Na época, os VJs eram o Gastão no Hits MTV (melhor programa de todos), o Cazé no Teleguiado e a Sabrina no Top 10 - nessa época eu nem sabia o que era jabá.
Lembro que o Top 10 reprisava às sete da manhã. Como eu entrava na escola só às 11h30, tive a brilhante idéia de acordar às sete da manhã só pra ver o clipe todo dia. E assim o fiz.
Eu torcia com a alma praquela porra ficar em primeiro lugar nas paradas. Ao mesmo tempo, fui descobrindo novos sons. O grunge (odeio esse termo, mas delimita bem) já tinha subido pro telhado, mas mesmo em 1997 a programação da finada ainda bombava Alice In Chains, Nirvana, Pearl Jam, Soundgarden e correlatos.
Também tinham os sons clássicos da primeira metade da década, tipo Faith No More, Living Colour, Red Hot Chili Peppers, Blind Melon, Guns N' Roses e por aí vai. Sem contar o Offspring do Ixnay On The Hombre, Collective Soul com Precious Declaration, Dishwalla, Alanis Morissete pondo o pau na mesa com You Oughta Know...
Era lindo, amigos.
Engraçado que, quando criança, eu dizia que não gostava de música - como pode uma porra dessa, batima? Pouco antes de descobrir Falling In Love, eu tinha arranjado um rádio gravador. (Minha mãe trocou pontos da Telesena pra comprar - é sério).
Com umas fitas em mãos, comecei a gravar uns pôpero meio estranho na Jovem Pan, Shakira, Take That (#chuparobbiewillians), etc. Nada, porém, que tenha maculado minha formação musical.
E tinha outra coisa: minha devoção ao capet... ao rock não foi influenciada por ninguém naquela época. Minha mãe tinha uma pá de vinil de samba, MPB e uns cantores tipo Benito de Paula, mas ela raramente ouvia.
Eu mal conversava com meu pai àquela altura (depois o viado me mostrou Paradise City) e a garotada da minha idade era tão panda quanto eu em relação a assuntos musicais. Só mais pra frente que os muleque mais velhos me mostram outros sons, tipo uns classic rock e afins.
Foi um negócio totalmente espontâneo e involuntário, o que eu acho do caralho (sou mais roqueiro que vocês, chupa). Não ouvia discos dos meus irmãos mais velhos pelo simples fato de não ter irmãos àquela altura do campeonato.
É picuinha, mas às vezes fico intrigado: será que outras pessoas também fazem essas descobertas ao acaso?
Passou algum tempo, abandonei logo cedo o xiismo-trOO-odeio-pagode, daqui a duas semanas tem show do AC/DC e o fato é que estou prestes a celebrar o 13º aniversário do meu enlace matrimonial com o rock.